quinta-feira, 13 de março de 2025

Quando a ansiedade vira doença? Toda tristeza é depressão? g1 explica quais os sinais e os sintomas das doenças 


 Foto: Pexels

Segundo o levantamento exclusivo do g1, foram concedidos mais de 470 mil afastamentos por saúde mental em 2024 -- o maior número em dez anos. Maiores índices são por ansiedade e depressão. 

Por Redação g1

Ansiedade e depressão foram as principais causas de afastamento do trabalho em 2024 entre os transtornos de saúde mental. É o que mostra um levantamento exclusivo do g1, baseado em dados do Ministério da Previdência, que revela que o país registrou o maior número de licenças em dez anos por esse motivo.

Segundo o levantamento, mais de 470 mil afastamentos foram concedidos no último ano devido a transtornos mentais, sendo 141 mil por ansiedade e 113 mil por depressão. O número de 2024 representa um aumento de 68% em relação ao ano anterior, quando 283 mil benefícios foram concedidos por essa razão. Em dez anos, esse é o maior número já registrado.

🔴 A ansiedade é um sentimento natural, ativado em situações que exigem urgência ou diante do inesperado. Mas quando ela deixa de ser apenas uma sensação e se torna uma doença? E toda tristeza é, de fato, depressão?

O que é ansiedade?

A ansiedade é um sentimento natural e está relacionada, por exemplo, a sensação que se tem quando é preciso fazer algo urgente.

🔴 Esse sentimento, no entanto, é diferente do que é classificado clinicamente como transtorno de ansiedade. Isso acontece quando essa sensação toma conta da pessoa e atrapalha as atividades do dia a dia.

Os quadros mais comuns e suas características são:

  • transtorno de ansiedade generalizada: preocupação excessiva e análise minuciosa de cada situação;

  • transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): pensamentos obsessivos e medos irracionais que acabam levando a atitudes compulsivas;

  • fobia social (ou transtorno de ansiedade social): preocupação e medo com interações sociais comuns do dia a dia;

  • síndrome do pânico: crises intensas de medo e mal-estar generalizado;
  • agorafobia: medo de situações e lugares que possam causar impotência, constrangimento ou aprisionamento.

  • Quais são as principais causas e sintomas?

  • A ansiedade é um transtorno multifatorial. O que significa que não há uma única causa para ela, mas um conjunto de fatores. Alguns deles são:por desequilíbrios químicos cerebrais;
  • pela falta de suporte familiar; traumas;ambiente de pressão, que estimula que a pessoa seja ansiosa;
  • falta de segurança, seja por violência ou financeira;

  • Quais são os sintomas e os sinais de uma crise de ansiedade?

  • 🧠 O professor e psiquiatra explica as pessoas com transtorno ansioso podem ter episódios agudos, que são as crises. Eles acontecem por causa de uma reação química do corpo:

  • Liberação de adrenalina: na crise, a amígdala, que é uma área do cérebro, libera um nível alto de adrenalina;

  • Corpo vulnerável: no estado normal, o corpo atuaria para minimizar o efeito da adrenalina ao perceber que não há um risco iminente, mas no transtorno essas defesas são desativadas;

  • Palpitação, suor e formigamento: com a descarga de adrenalina, o corpo reage com os sintomas físicos que caracterizam a crise como coração acelerado, pupilas dilatadas, vômitos, formigamento nas pernas, mãos frias, entre outros.

  • O tratamento depende do quadro do paciente. Há casos em que é possível apenas com acompanhamento de terapia, trabalhando para absorver menos a pressão e não deixar o corpo em situação de alerta.

  • O que os médicos reforçam é que é necessário, para além de terapia, um olhar para a qualidade de vida: melhoria no tempo de sono, alimentação, exercício físico, tempo para lazer.

  • Em casos mais graves, é necessário intervenção com medicação. Apenas com o acompanhamento médico é possível saber qual o melhor caminho de tratamento.

  • O que é depressão?

  • A depressão é um transtorno de humor. Segundo especialistas, o nosso organismo tem várias funções – tem a função digestiva, a visual, a auditiva, e tem uma função chamada humor, que dá o tom, o colorido das coisas, o colorido afetivo: se é positivo, se é negativo, se é bom, se é mau. E essa função pode adoecer – e uma dessas maneiras é a depressão – é um transtorno do humor nesse sentido.

  • Quais são os sintomas?

  • Os critérios centrais para diagnosticar a depressão em alguém são o humor triste e a anedonia – a diminuição ou a ausência de interesse ou prazer em coisas que, antes, davam prazer à pessoa. Mas também existem outros fatores, como:
  • alterações do sono (a pessoa passa a dormir pouco ou demais);
  • alterações do apetite (a pessoa passa a comer pouco ou demais) ou de peso;
  • redução da atenção, da concentração e da memória;
  • cansaço ou baixo nível de energia; pensamentos de culpa, baixa autoestima, desesperança em relação ao futuro, morte ou suicídio; irritabilidade, impaciência, pessimismo, negatividade.

  • Especialistas alertam que a tristeza não necessariamente precisa aparecer. A pessoa fica mais irritada, mais impaciente, mais negativa, mais pessimista, sem sentir tristeza, sem choro.

  • 🔴 Em um episódio depressivo, por exemplo, a pessoa pode ter dificuldades significativas no funcionamento pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras áreas, alerta a OMS.

  • Mas, então, como diferenciar um sintoma de depressão de uma tristeza "normal", que acontece com todo mundo ao longo da vida? Isso cabe a um profissional – médico ou psicólogo.

  • O que causa a depressão?

  • A depressão é uma condição complexa e multifatorial, produto da interação entre condições biológicas, genéticas e ambientais.

  • Independentemente do motivo que leva alguém a ter depressão, a "culpa" nunca é de quem fica doente.

  • Vários fatores podem deixar alguém mais vulnerável a desenvolver depressão: questões econômicas, como a perda de um emprego. histórico de abuso ou de violência. luto pela perda de pessoas próximas; eventos traumáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul; pertencer à população LGBT; ser mulher;  até exercer determinadas profissões, como médico e professor, por exemplo.

  •  O recorte de gênero é importante: as mulheres têm uma prevalência duas vezes maior de depressão do que os homens. Nos dados fornecidos pelo INSS com perfil das pessoas afastadas, as mulheres são maioria.

  • Segundo especialistas ouvidos pelo g1, isso tem relação com fatores sociais: a sobrecarga de trabalho, a menor remuneração, a responsabilidade do cuidado familiar e a violência:

  • Mulheres ganham menos que homens em 82% das áreas, segundo levantamento do IBGE. (Leia mais aqui)

  • Total de casos de feminicídio cresceu 10% nos últimos cinco anos. (Leia mais aqui)

  • foram as mais afetadas pela crise, com maior índice de desemprego e trabalho não remunerado, segundo pesquisa publicada pela revista científica “Lancet". (Leia mais aqui)

  • Depressão tem tratamento?

  • Embora não tenha cura, a depressão é uma doença tratável. A doença é classificada como episódica. Ou seja, ela se manifesta em crises repentinas que podem ser repetidas ou até uma única vez.

  • Podem existir episódios muito longos, que duram anos, mas o mais normal é ter episódios que tenham início, meio e fim mais delimitados.

  • A recomendação é acompanhamento médico, com psiquiatra, e terapia com psicólogo. Os dois profissionais que acompanham o paciente definem qual a melhor estratégia de tratamento

  • Qual a diferença entre as duas doenças?

  • Segundo os especialistas, a maior diferença é que a ansiedade é caracterizada pelo medo e angústia constantes. Já a depressão, com graus variados, é geralmente um transtorno no qual a pessoa se sente deprimida e não tem motivação ou interesse para desempenhar tarefas que antes eram satisfatórias.

  • Tanto a ansiedade quanto a depressão paralisam o indivíduo e são consideradas doenças que tiram a qualidade de vida e o prazer de fazer atividades antes prazerosas. São transtornos que caminham de mãos dadas, porém cada uma possui seu quadro sintomático e tratamento adequado.

Em geral, a presença de um transtorno de ansiedade é considerado um fator de risco para a depressão e vice-versa.
— Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.

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