quarta-feira, 28 de maio de 2025

Prestes a completar 62 anos, Debora Bloch afirma: 'A maturidade é uma bênção'


 Foto: Fernando Young

Em entrevista ao videocast 'Conversa vai, conversa vem', atriz lembra juventude de 'cabelo crespo, nariz grande e bocão': 'Não era a beleza que se esperava para uma heroína de novela', diz a artista para quem o visual dos tropicalistas ajudou a se aceitar

Debora Bloch se tornou um ícone de estilo. Mas não foi sempre assim. A intérprete de Odete Roitman de 'Vale tudo' lembrou, em entrevista à jornalista Maria Fortuna, no 'Conversa vai, conversa vem' (o videocast está no ar no Youtube do GLOBO) a juventude em que seu visual destoava do padrão da época - e ela era cobrada por isso. Contou ainda que a estética tropicalista de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa foram fundamentais para ela se aceitar. Por fim, Debora, prestes a completar 62 anos no próximo dia 29, falou dos ganhos da passagem do tempo e afirmou "a maturidade é uma benção". Leia abaixo:

Você é um ícone de estilo. Mas ser dona de um cabelão crespo e nariz grande na juventude deve ter sido uma questão. Como o visual de ídolos da sua geração, como Gal, Gil, Bethânia e Caetano te ajudaram num processo de aceitação?

Quando estreei em novela, nas entrevistas falavam muito assim: "Você tem uma beleza fora do padrão". Eu pensava: "Tá, você não me acha bonita!". Era um jeito educado de dizer que eu não era exatamente a beleza que se esperava para uma heroína de novela. Cabelo crespo, sardenta, nariz e boca grande. Não ficava tão afetada, mas entendia o recado. Mas eu achava legal ser fora do padrão porque meus ídolos eram. Gal, Bethânia, Caetano, Gil, Rita Lee eram transgressores dos padrões da época. Se vestiam de outro jeito, não seguiam as regras pré-estabelecidas. Olha como representação é importante. Hoje pessoas negras, pessoas acima do peso, estão nas capas de revista. E isso vai mexendo com os padrões, é muito importante.

Você disse outro dia que, na maturidade, encontrou quem você era e quem você não era. Quem você não é e quem é você?

Quando um jovem escritor pergunta a Arthur Miller sobre o que é escrever, o que é dramaturgia, ele responde: "Você olha o que uma pessoa sonhou, o que a vida dela se tornou e escreve sobre a diferença. Isso é dramaturgia". Estava falando disso. A gente sonha idealiza muitas coisas. Algumas, conquista. A vida vai te dizendo "isso não deu para você, isso deu". Chega uma hora que você fala, tá bom, a vida é isso.

Sharon Stone disse: "Não quero ser uma beleza sem idade, quero ser o melhor que posso nessa idade. Como é esse combo vaidade, ruga, procedimentos para você?

Acho uma benção os procedimentos pra gente ficar bem. Mas sou atriz, as pessoas mais velhas precisam ser representadas e você tem que ter idade para representá-las. Não poderia fazer essa personagem maravilhosa com 30, 40 anos. Olha que benção eu ter 61, com a minha cara e poder fazer. É importante ter expressão. Tão lindo Sônia Braga fazendo "Aquárius" com aquele cabelão e as rugas dela, podendo representar aquela mulher na idade dela e com uma vida interessante. Nós, artistas, que temos esse lugar do simbólico, da representação, temos essa função, essa responsabilidade.

O aumento de mulheres autoras, criando narrativas reflete em mais personagens mais interessantes para atrizes maduras?

Sim. Ser uma mulher escrevendo faz toda a diferença. Gilberto já trazia uma visão moderna das mulheres. Procedimentos são maravilhosos pra envelhecer de um jeito mais legal, cada um é livre para fazer o que quer, mas tem que tomar cuidado, todo mundo está ficando com a mesma cara. Fernanda Torres linda e maravilhosa, foi para Hollywood e conquistou todo mundo com a inteligência, humor, carisma, beleza, cruzada de perna, sem estar lá toda deformada com procedimentos..


fonte: https://oglobo.globo.com/

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