segunda-feira, 9 de junho de 2025

Pix Automático pode reduzir atrasos de pagamentos e ajudar no controle do caixa de pequenos negócios? Veja como

Ferramenta do Banco Central permite cobranças automáticas via Pix e pode facilitar a vida de quem lida com mensalidades, assinaturas ou clientes inadimplentes 

Por Marcos Furtado — Rio de Janeiro


Foto: Editoria de Arte

O Pix já faz parte do dia a dia da maior parte dos pequenos negócios no Brasil. Segundo o Sebrae, 94% das micro e pequenas empresas usam o sistema para realizar transações financeiras. Isso significa que, do total de 21,7 milhões de negócios desse porte ativas no país, cerca de 20,4 milhões já operam com o Pix. Com essa adesão, esses empreendedores estão mais próximos de incorporar a nova funcionalidade do Banco Central (BC): o Pix Automático.

A nova funcionalidade do sistema de pagamentos instantâneos que permitirá o débito automático de contas recorrentes, como luz, telefone, condomínio, mensalidades escolares e assinaturas de streaming. Diferentemente da versão tradicional do Pix, que exige autorização a cada transação, o Pix Automático permite que o consumidor autorize, apenas uma vez, a cobrança recorrente — semanal, mensal, trimestral ou anual.

Carlos Henrique Jr., fundador da CJC Uniformes, que fabrica uniformes profissionais e enfrenta atrasos constantes no pagamento de alguns. Ele conta que, todos os meses, de três a quatro clientes deixam de pagar em dia — e alguns acabam demorando ainda mais para acertar os débitos.

— Temos pelo menos dois clientes que estão inadimplentes há mais de um mês já. E há outros que pagam com atraso, que chega a uma semana. Esse é um problema recorrente — lamenta.

O Pix Automático também pode ajudar a diminuir a inadimplência dos clientes, principalmente entre aqueles que esquecem de pagar as contas ou não têm uma rotina financeira organizada, como aponta Giovanni Bevilaqua, coordenador de Acesso a Crédito e Investimentos do Sebrae, que participou do evento de lançamento da nova funcionalidade, promovido pelo Banco Central.

— O cliente autoriza previamente os pagamentos recorrentes, o que reduz atrasos e até mesmo esquecimentos. Algo bastante comum quando se depende de boletos ou transferências manuais. Na prática, acredito que isso significa menos inadimplência, mais organização e um fluxo de caixa mais estável para os empreendedores — opina.

Outro aspecto positivo do Pix Automático é que sua adesão também tende a ser mais simples. Diferente do débito automático tradicional, que exige convênios separados com cada banco em que desejam operar, o Pix Automático permite que as empresas concentrem todos os recebimentos em uma única instituição financeira. Isso reduz a burocracia e os custos, o que deve facilitar a entrada de micro e pequenas empresas na nova modalidade.

— Cerca de 94% de todos os pequenos negócios do Brasil já usam o Pix e também têm nele o principal meio de pagamento. Essa inovação representa um salto de inclusão digital e financeira, especialmente para quem está longe dos grandes centros e ainda não tem acesso fácil a soluções de débito automático ou sistemas bancários complexos — avalia Giovanni.

O Pix Automático também traz redução de custos com meios tradicionais de cobrança, como boletos e maquininhas, para os pequenos negócios .

O fabricante de uniformes Carlos Henrique Jr. já sente no bolso a diferença entre as formas de pagamento que oferece aos seus clientes. Além do Pix tradicional, sua empresa também utiliza links de pagamento por cartão de crédito e débito, além dos boletos — que ainda são comuns, mas menos vantajosos.

— Os links de pagamento são práticos, mas têm taxas. O dinheiro cai rápido, em uma ou duas horas, mas há o desconto cobrado pela empresa que gera o link. Já o boleto, apesar de termos uma quantidade gratuita pelo banco, quando passamos do limite, temos que pagar por cada um — explica.

Carlos paga um custo fixo de R$ 5 a R$ 6 por boleto. Mas o maior impacto financeiro, segundo ele, são as taxas dos links de pagamento por cartão, que variam conforme o valor da venda e o número de parcelas.

Além disso, o empreender destaca o fato de receber os valores transferidos via Pix de forma instantânea. No débito automático, os pagamentos são processados somente em dias úteis. Por isso, a possibilidade de automatizar esses pagamentos recorrentes sem custo extra, como prevê o Pix Automático, é vista com bons olhos por Carlos:

— Com o boleto, tem sempre o tempo de compensação. Um pagamento feito no dia 5 só vai cair no dia 6, e isso se for dia útil. Se cair numa sexta-feira, por exemplo, a gente só recebe na segunda. Às vezes, são dois ou três dias de atraso até o dinheiro entrar na conta. O Pix cai na hora, no mesmo momento em que o cliente faz o pagamento.

Clientes da empresa de Carlos já vão começar a fazer pagamentos recorrentes por meio do Pix Automático.

— Já consultei o gerente do meu banco. Na próxima semana, vamos cadastrar dois clientes para poderem ter relação comercial com a nossa empresa de maneira automática — afirma.

Glauber Rodrigues de Lucena, de 43 anos, é dono da Magykan Locação, empresa especializada no aluguel de notebooks, desktops, impressoras e servidores. Ele trabalha com contratos recorrentes e fornece equipamentos de informática para outras empresas, além de cuidar da manutenção e do suporte técnico — uma forma de terceirizar esse tipo de serviço e evitar que o cliente tenha que investir na compra e na gestão desses recursos.

Atualmente, Glauber utiliza três principais formas de pagamento: Pix, boleto bancário e, em alguns casos, dinheiro. Para acompanhar os recebimentos e manter o controle do caixa, ele adota uma rotina que combina tecnologia e conferência manual. Segundo Glauber, há três métodos principais: a verificação direta do extrato bancário, a análise da conciliação feita pelo banco com os boletos pagos e, por fim, a integração desses dados ao sistema ERP (de gestão empresarial) desenvolvido por ele mesmo, com uso de inteligência artificial.

— Eu tenho uma pessoa no financeiro que acompanha esses dados e dá baixa no nosso sistema. Antes, um processo que levava mais de um ano de trabalho, hoje consigo resolver em 40 horas — afirma.

A chegada do Pix Automático pode trazer ainda mais eficiência para empreendedores como Glauber. Segundo Giovanni Bevilaqua, do Sebrae, a nova funcionalidade do Banco Central tende a melhorar o controle do fluxo de caixa, ao permitir entradas financeiras mais previsíveis e organizadas.

— Isso facilita o planejamento e reduz o retrabalho na conciliação bancária, o que gera mais transparência e eficiência para a gestão financeira dos pequenos negócios.

Glauber ainda tem dúvidas sobre como a funcionalidade vai funcionar em casos de cobranças com valores variáveis, como acontece em seu caso:

— Vamos supor que um cliente alugue dois computadores por R$ 300, e depois peça mais um durante o mês. Faço o cálculo proporcional dos dias restantes e o valor sobe para R$ 405, por exemplo. Minha dúvida é: até quando posso informar ao banco esse novo valor? Ainda estou tentando entender as regras.

Segundo o Banco Central, o Pix Automático foi desenvolvido justamente para dar mais flexibilidade a empresas que lidam com esse tipo de situação. A funcionalidade vai permitir cobranças com valores diferentes a cada ciclo, o que atende contratos com mensalidades ajustáveis.

As empresas poderão estipular um valor mínimo a ser cobrado, enquanto os clientes poderão definir um valor máximo para cada pagamento — além da quantidade de parcelas autorizadas. Instituições financeiras também poderão aplicar limites com base em critérios de segurança.

Portanto, consumidores vão poder usar o Pix Automático para pagar contas de luz e água, que não possuem um valor fixo.

Mesmo com os benefícios, a adoção do Pix Automático exige atenção dos pequenos empreendedores para a ferramenta funcionar bem. Segundo Giovanni Beviláqua, do Sebrae, o principal desafio será a adaptação dos sistemas internos de cobrança e gestão financeira — especialmente para quem ainda faz esse controle no papel ou de forma improvisada.

— O Pix Automático deve impulsionar o uso de ferramentas mais estruturadas de controle financeiro. Será preciso mais organização para acompanhar os recebimentos e manter o fluxo de caixa sob controle — diz.

Outro ponto que exige atenção é a relação com o cliente. Como a cobrança automática depende de autorização prévia, o empreendedor precisa explicar bem como funciona o sistema e reforçar que o débito pode ser cancelado a qualquer momento.

— Deixar o cliente seguro e bem informado é essencial para conquistar sua confiança — orienta Giovanni.

A boa notícia, segundo ele, é que a tecnologia é simples, rápida de implementar e de baixo custo.

Giovanni Bevilaqua, coordenador de Acesso a Crédito e Investimentos do Sebrae

"O Pix Automático e o futuro Pix parcelado vão colocar nas mãos dos empreendedores ferramentas modernas que antes só estavam disponíveis para grandes empresas e bancos. Estamos caminhando para um cenário em que os pequenos negócios poderão oferecer mais comodidade, mais opções e mais tecnologia para seus clientes, com menos burocracia e mais autonomia."

Negócios que trabalham com cobranças recorrentes, como escolas, academias, cursos, clubes e provedores de internet, podem automatizar o recebimento, garantindo pagamentos mais ágeis e regulares.

  • Melhor controle do fluxo de caixa

Com entradas e recebimentos programados e previsíveis, os empreendedores conseguem planejar melhor suas finanças, evitando surpresas e ajudando na organização financeira do negócio.

  • Redução do trabalho desnecessário na conciliação financeira

A automação facilita o controle dos pagamentos, tornando o processo de conferência e comparação dos registros financeiros internos mais transparente e menos trabalhoso

  • Redução de custos operacionais

Com menos necessidade de emissão de boletos e uso de maquininhas, os pequenos negócios podem economizar, já que o Pix não cobra taxas para recebimento, ao contrário de outros meios.

  • Melhoria na relação com os clientes

Os consumidores ganham comodidade e segurança, com menos riscos de esquecimento ou atraso nos pagamentos, o que fortalece a confiança e o vínculo com o negócio.


fonte:https://extra.globo.com/

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