quarta-feira, 17 de setembro de 2025

A briga de Consuelo e Aldeíde em 'Vale tudo' divide torcidas, mas o etarismo e o machismo não podem vencer

Secretária atacou a melhor amiga ao saber que ela namorava seu filho em segredo; ela tinha razão até perdê-la completamente vomitando preconceitos 

Por Gabriela Germano


 Foto: Rede Globo/Divulgação

Como ter razão numa situação e perdê-la completamente? Nos capítulos recentes de “Vale tudo’’, Consuelo alcançou esse feito com maestria. A personagem brilhantemente interpretada por Belize Pombal flagrou a melhor amiga, Aldeíde (Karine Teles), aos beijos e amassos com o filho, André (Breno Ferreira). Sentiu-se traída e, vamos concordar, a situação é no mínimo delicada. Mais de uma vez, a secretária da TCA compartilhou com sua até então confidente a mudança de comportamento do rapaz e citou uma provável relação que ele vinha mantendo em segredo. A vizinha teve, portanto, oportunidade de contar a verdade e não fez isso. Uma embromação necessária à novela, a gente sabe. Mas basta fazer o rápido exercício de se colocar no lugar de Consuelo para sentir a punhalada pelas costas.

O problema é que a reação dessa mãe ao descobrir que os dois estão realmente namorando extrapolou limites aceitáveis. Abaladíssima com a situação, ela se dirigiu a Aldeíde com acusações injustas e preconceituosas. E, pior, o fez de maneira pública, humilhando-a e expondo a situação para todos na vila onde vivem, causando enorme constrangimento. Como acontece com qualquer um que se deixa dominar pela fúria, meteu os pés pelas mãos, enfileirando ataques como: “senhora assanhada’’, “você não vai se aproveitar do meu filho’’, “isso é assédio, onde já se viu, essa mulher viu nosso filho crescer e agora vai dormir com ele?’’.

Vai. Fazer o quê? Acontece, e a vida vai seguir, já que a situação, por mais que possa causar algum embaraço, envolve pessoas adultas. O alarmante é que, geralmente, nós, pessoas corretas e com bom caráter, acreditamos não nos afetar com alguns temas e questões. Mas, quando os sentimos na pele ou eles adentram nossas casas, mostramos outras faces, outros lados adormecidos dentro de nós.

Em Consuelo, despertou o monstro etarista e da sororidade seletiva. Ele dá suas caras constantemente nos tempos atuais, como frisou Aldeíde tentando se defender dos ataques: “Quando me casei com Laudelino, 20 anos mais velho do que eu, ninguém falou nada. Será que a justiceira do etarismo só aparece quando é a mulher que é a mais velha?’’, questionou.

O descontrole que tomou conta de Consuelo não tem exclusividade de gênero, mas serve, sim, como um alerta ainda mais especial às mulheres. Porque o olhar masculino que impera no mundo já é discriminatório com a maturidade, com o envelhecimento, priorizando o frescor da eterna juventude. Se não formos nós a agirmos efetivamente para mudar esse cenário, continuaremos sendo, a partir de determinada idade, resumidas e reduzidas a antiquadas sem noção, sem valor, sem amor, sem tesão.

E precisamos, sim, falar das mães. Aquelas que não deveriam carregar mais essa culpa, mas inevitavelmente acumulam esse fardo, até porque muitas vezes os pais não comparecem, não são sequer conhecidos. Consuelo tem marido, mas ele não apita nada. E ainda que cada família tenha sua dinâmica, a mãe superprotetora e controladora que trata um filho crescido e adulto feito André como um menino indefeso está errando feio. Tem muitas por aí. Quase sempre elas erram por amor, por cuidado, merecem o perdão. Mas não nossa omissão. Até o amor, em excesso, pode ser danoso.

Gabriela Germano é editora-assistente e atua na área de cultura e entretenimento desde 2002. É pós-graduada em Jornalismo Cultural pela Uerj e graduada pela Unesp. Sugestões de temas e opiniões são bem-vindas. Instagram: @gabigermano E-mail: gabriela.germano@extra.inf.br

fonte:https://extra.globo.com/

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