sexta-feira, 7 de junho de 2024

Cuidados paliativos: estudo brasileiro mostra a importância de ter conforto nos momentos finais da vida de um paciente 

Pesquisa foi apresentada na plataforma digital da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), que promove o maior encontro anual de oncologia do mundo 

Por Eduardo F Filho — São Paulo


Foto: Freepik

O termo paliativismo ou cuidados paliativos é o conjunto de práticas de assistência a um paciente com uma doença incurável que visa oferecer conforto, dignidade e diminuição de sofrimento à ele durante a jornada da doença. As pessoas associam cuidados paliativos a uma sentença de morte, ou quando o paciente já está em estágio avançado de uma certa doença em estágio final, porém, é isso que uma médica do Rio de Janeiro estuda desmistificar.

Cecília Emerick Mendes acompanhou 171 pacientes do Hospital Marcos Moraes, uma unidade da Oncoclínicas no Rio de Janeiro, de fevereiro a dezembro de 2023 e relatou em um estudo a importância de ter uma equipe de cuidados paliativos inseridos dentro do complexo de saúde que permitiu um tratamento personalizado e mais especializado aos pacientes.

— As pessoas têm uma percepção de que os cuidados paliativos são necessários apenas no final da vida, mas não é verdade. Eles são uma estratégia de acolhimento, para amenizar o sofrimento para aquela determinada fase da doença. A nossa intenção é oferecer esse tipo de tratamento em todas as etapas dentro do hospital. Desde o ambulatorial, quando o paciente chega e ainda tem uma certa independência em relação à doença, ou seja, consegue se locomover e voltar para casa, até o hospitalar, quando a doença já o impossibilita de fazer algumas práticas sozinho — explicou a médica paliativista em entrevista ao EXTRA.

Segundo os resultados, dos 171 pacientes que participaram do estudo, 62% tiveram alta e foram para casa — porém, a médica não sabe afirmar se eles continuaram o tratamento em casa — e 38% morreram. Do total de óbitos, 31% faleceram dentro da UTI. Por meio dos cuidados paliativos é possível reduzir o número de mortes em UTI, permitindo a acomodação mais humanizada em enfermarias e até em casa.

— Se você perguntar para o paciente em fase final de vida, onde ele prefere morrer, eles vão muito provavelmente dizer que querem ir para casa, ficar com a família, estar no conforto de casa. UTI não é lugar de morrer. É entrar e reverter uma condição crítica. O meu grande objetivo de vida, e tenho estudos para isso, é criar um local onde há esses cuidados paliativos que se assemelham a casa do paciente. Ele não precisa mais da UTI, não tem mais o porquê continuar dentro de um hospital, mas necessita de conforto e menos sofrimento para seus últimos momentos. É como se fosse uma hospedaria com acesso a médicos especializados. Temos muito pouco no Brasil hoje — afirma Mendes.

Segundo a pesquisadora, no Rio de Janeiro, existem apenas 11 unidades de cuidados paliativos, que criam desafios no atendimento às complexas necessidades dos pacientes com câncer metastático. Os profissionais envolvidos são preparados para olhar, por exemplo, os valores de quem está em tratamento, consideram aspectos religiosos e gostos pessoais, entre outras características, para que esse ritual seja cumprido de forma mais tranquila.

O estudo, publicado na plataforma digital da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) — que promove o maior encontro anual de oncologia do mundo — também foi assinado pelas médicas paliativistas Daniela Chimeli, Merian Albuquerque, Tamina Ferreira, Carolina Alves Ribeiro e Sarah Ananda Gomes, além da enfermeira paliativista Simone Carvalho.

— Ficamos muito felizes com o resultado. Somos uma equipe muito unida. Esses números são esforço de todo o hospital, de toca a equipe multidisciplinar de médicos, enfermeiros, paliativistas. Seguir protocolos é muito importante, mas, quando falamos de cuidados paliativos, temos que nos colocar na posição de ouvintes sobre o que o paciente deseja — explica.

A médica afirma que até o final do ano pretende liberar uma nova fase do estudo com mais pacientes agraciados pela pesquisa. Até o momento, já há 260 participando do projeto.

fonte:https://extra.globo.com/

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