Traficantes do Equador importam tradição mexicana: cultuam a Santa Morte atrás de proteção e fazem até sacrifícios humanos 

Ex-integrante de quadrilha disse que crianças foram sequestradas para serem mortas diante de estátua cultuada por 'fornecer proteção'

 Foto: AFP

Uma operação policial contra um cartel do narcotráfico em Durán (Equador) em meados de janeiro revelou que os traficantes do país sul-americano importaram uma tradição mexicana. No local, havia sido erguido um altar para a Santa Morte.

Santuários com estátuas de esqueleto representando a Santa Morte e envolto numa capa — uma foice na mão direita e um globo terrestre na esquerda — estão ficando recorrentes em esconderijos criminosos na cidade.

Oferendas de dinheiro, tabaco, álcool, estatuetas e apetrechos religiosos foram empilhados a seus pés por gangsters que buscavam a proteção da santa.

"A crença é que quando eles se entregam à Santa Morte, eles não serão pegos e atingem os seus objetivos porque Santa Morte cuida deles", disse o coronel da polícia de Durán Roberto Santamaria à agência France Presse (AFP).

Um ex-membro da quadrilha disse à AFP que alguns colegas também são conhecidos por fazer sacrifícios humanos à Santa Morte.

"Eles sequestraram crianças de outras cidades e as sacrificaram na frente dela (Santa Morte) quando queriam fazer uma ação grande", disse o homem.

Além de fazer oferendas em altares, os membros dos cartel tatuam a imagem da santa nos braços e usam amuletos com sua imagem em volta do pescoço. De acordo com Santamaria, a Santa Morte veio do México há cerca de seis anos, quando membros da facção equatoriana Los Choneros receberam treinamento do cartel de Sinaloa, que também transferiu a eles as suas crenças sobrenaturais. A polícia em Durán estima ter encontrado altares para a santa em cerca de seis em cada 10 locais alvos de operações antidrogas realizadas em 2024.

A Santa Morte é uma considerada uma santa guardiã da cura e da proteção, e milhares de latino-americanos rezam a ela por uma passagem segura para a vida após a morte. A figura é venerada no México desde o século XVIII, marcando um sincretismo entre crenças católicas e mesoamericanas. A cultura mexicana mantém desde a era pré-colombiana uma certa reverência em relação à morte, manifestada em celebrações sincréticas como o Dia dos Mortos. Entre os elementos da celebração está o uso de esqueletos para lembrar as pessoas de sua mortalidade, os quais são adornados, muitas vezes, com terços e rosários, elementos do catolicismo. Sacrifícios não são incomuns. Em novembro do ano passado, no México, duas mulheres e um menino foram mortos a tiros num altar da Santa Morte.

Los Choneros é um das 20 organizações criminosas declaradas "grupos terroristas" pelo presidente equatoriano, Daniel Noboa, que busca a reeleição no próximo domingo enquanto lidera uma guerra contra o narcotráfico, responsabilizado pelo aumento de crimes violentos no país sul-americano.

fonte:https://extra.globo.com/