terça-feira, 25 de outubro de 2022

 

TCU pede que Caixa suspenda empréstimo consignado com Auxílio Brasil

Agência da Caixa na Pavuna, Zona Norte do Rio, em dia de pagamento do Auxílio Brasil
Agência da Caixa na Pavuna, Zona Norte do Rio, em dia de pagamento do Auxílio Brasil Foto: Fabiano Rocha/ Agência O Globo
Manoel Ventura
 Foto: Fabiano Rocha/ Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), recomendou que a Caixa Econômica Federal suspenda a concessão de empréstimo consignado a beneficiários do Auxílio Brasil até que a Corte analise a regularidade das operações. O ministro deu 24 horas para o banco apresentar uma série de informações. Depois dessas informações, ele deve tomar uma nova decisão.

Na decisão desta segunda-feira, ele ressaltou a urgência da análise devido "ao volume de empréstimos já concedidos e à velocidade de sua liberação" e disse que o prazo começará a ser contado a partir da notificação da Caixa. O banco foi comunicado por volta de 19h desta segunda.

"Leva à necessidade de que se ouça aquela empresa pública no prazo excepcional de 24 horas, a contar da ciência deste despacho, previamente à decisão quanto ao deferimento ou não da cautelar (decisão), sem prejuízo de que a Caixa, por prudência, cesse imediatamente a liberação de novos valores a partir de empréstimos nessa modalidade como medida de zelo com o interesse público, até que este Tribunal examine a documentação a ser encaminhada e a entenda apta a demonstrar não estarem presentes as graves irregularidades sugeridas na Representação", diz a decisão.

Em nota, a Caixa disse que tomou conhecimento de despacho, e que os empréstimos solicitados nesta segunda-feira não terão seus valores liberados nas próximas 24 horas.

"Nos contratos que foram celebrados na data de hoje, a Caixa informa que não há previsão de liberação de valores financeiros referentes a essas solicitações, nas próximas 24 horas, cumprindo automaticamente a prudência recomendada", afirma.

Gestão de riscos

O ministro ainda afirma que a gestão de riscos é pilar essencial para a gestão de uma empresa pública. Se isso não for observado, diz ele, além de afrontar diretamente normas jurídicas, pode causar graves prejuízos à empresa e ao controlador.

"Veja-se ainda que a lei não obrigou o banco a ofertar o empréstimo, sendo essa uma decisão tomada pelos órgãos de governança corporativa do banco", afirma, colocando pressão sobre a diretoria da Caixa. A estatal é a única grande instituição financeira a oferecer o crédito, que não é ofertado por grandes bancos privados e nem pelo Banco do Brasil.

A decisão do TCU vale apenas para a Caixa.

Cedraz solicitou da Caixa pareceres, notas técnicas, resoluções e decisões colegiadas que tratem sobre precificação, critérios de concessão, taxas de juros, rentabilidade, inadimplência esperada, aprovação da linha de crédito relativa ao crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil e gestão de riscos associados a essa operação.

O ministro disse na decisão que há urgência dessa análise diante do volume de empréstimos já concedidos e a velocidade de sua liberação. "Certamente não poderá esta Corte aguardar cinco dias úteis para que lhe seja encaminhada documentação que se espera já existir, o que leva à necessidade de que se ouça aquela empresa pública no prazo excepcional de 24 horas, a contar da ciência deste despacho", afirmou.

Justiça eleitoral

O ministro do TCU diz que não cabe à Corte decidir acerca de eventuais infrações à legislação eleitoral ou à higidez do processo eleitoral, cuja competência é da Justiça Eleitoral. O ministro encaminhou os autos para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Nessa linha, ainda que o representante (Ministério Público) narre possível interesse em provocar repercussão nas eleições vindouras por meio do cometimento da suposta irregularidade de se apressar a concessão de empréstimo consignado a beneficiários do Auxílio Brasil, compreendo que qualquer avaliação sobre ilícito eleitoral ou repercussão eleitoral de ilícito administrativo é estranha ao Controle Externo, cabendo sua apuração pelo órgão competente da justiça especializada", disse o ministro.

Cedraz, então, encaminha a decisão ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes. O objetivo é que o TSE tome conhecimento do andamento das apurações acerca desta representação no âmbito do TCU e para que, uma vez deslocada para a correta jurisdição, avalie em sua esfera própria de atribuições a pertinência da adoção de medidas cautelares inerentes ao caso.

Em três dias úteis, a Caixa liberou R$ 1,8 bilhão em empréstimos consignados para 700 mil beneficiários do Auxílio Brasil, de acordo com informações divulgadas pelo banco no início da semana — não há novo balanço desde então.

Aprovado pelo Congresso em julho, o consignado para beneficiários do Auxílio Brasil foi liberado pelo Ministério da Cidadania no fim de setembro. A Caixa passou a ofertar o crédito na semana passada, entre o primeiro e o segundo turno das eleições. O banco é a maior instituição a oferecer a linha de crédito, rejeitada por grandes bancos privados.

Representação do Ministério Público

A análise do TCU é motivada por uma representação do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). O pedido foi feito pelo subprocurador Lucas Furtado, que viu indícios de desvio de finalidade e objetivo meramente eleitoral no benefício. Segundo o pedido, há risco de prejuízo para a Caixa e para o Erário.

O banco iniciou a oferta dessa modalidade de crédito no início da semana passada, com taxa de juros de 3,45% ao mês, um pouco abaixo do teto estabelecido por portaria do Ministério da Cidadania, que é de 3,5% ao mês. Embora limitada pelo governo, a taxa de juros para beneficiários do Auxílio Brasil é maior do que a do crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS, de até 2,14% ao mês.

Especialistas consideram arriscada a modalidade de empréstimo porque essa população já tem renda comprometida com gastos essenciais. Além disso, o benefício pode sofrer oscilações em seu valor, ou ser suspenso caso a família deixe de fazer jus ao pagamento.

fonte:https://extra.globo.com/


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